Manoel era um traficante de cocaína.
Manoel era também um militar da Aeronáutica brasileira.
Manoel foi preso ontem na Espanha com 39 kg de cocaína.
Manoel não era negro e não nascera na favela.
Manoel não nascera com a cor errada e nem vivera a vida toda no lugar errado.
Manoel gostava de fazer “arminha” com seus dedos polegar e indicador em riste.
Manoel era um bolsonarista e gostava de vestir sua camisa amarela da CBF e gritar em uníssono com seus amigos que “bandido bom é bandido morto” .
Tudo isso fazia de Manoel um traficante maneiro.
Manoel parecia um de nós.
Manoel não tinha a cor errada dos que morrem todos os dias na Maré e na Rocinha, dos que são executados todos oa dias nas comunidades do Rio, sem sequer ter diireito a um julgamento justo.
Manoel era um “cidadão de bem” para os milhões de bolsonaristas que marchavam ao seu lado nas passeatas contra a Dilma, e depois, por Bolsonaro e pelo direito de matar seu semelhante.
Manoel era um traficante maneiro.
Manoel era branco.
Voava com o presidente e se sentia protegido por Jesus. Não o Jesus que conheço e amo, mas aquele estranho Jesus de Malafaias, Waldomiros e Macedos.
Manoel ganharia uma grana legal traficando a droga para a Espanha no avião presidencial. Tudo estava dando certo para Manoel!
Os subordinados ao General Heleno, aquele que dava murros na mesa quando falava sobre Lula, foram estranhamente “incompetentes”, a ponto de não revistarem a mala de Manoel, o traficante maneiro.
Manoel já voara com Bolsonaro.
Manoel conseguira levar a droga para o lugar mais seguro do mundo. O avião presidencial.
Manoel, o traficante maneiro, que frequentava as mesmas praias que eu no Recreio dos Bandeirantes, jamais conseguiria ter agido sozinho.
Mas Manoel Silva Rodrigues, o traficante maneiro, teve o azar de se deparar com a polícia espanhola, para quem ter nascido “com a cor certa” e ser um militar não eram um salvo conduto.
Manoel, como Ícaro, teve suas asas e seus sonhos de crimes e impunidade destruídos..
Manoel, o canalha maneiro, pagará sozinho por um esquema criminoso, nefasto e hipócrita , que envolve homens infinitamente maiores do que ele.
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Por Lúcia Helena Issa